A mídia hegemônica brasileira, sistema Globo à frente, prossegue a sua
cantilena udenista, cujo enredo simplista engana muita gente.
Este enredo tem como base a seguinte fábula: acabou a impunidade no
Brasil e em pouco tempo o PT e o Lula, que inventaram a corrupção, serão
criminalizados. Segue trecho de um colunista amestrado do segundo
escalão do jornal O Globo, na edição desta segunda-feira (20): “Os donos
do poder não estão mais acima das leis. A transparência de uma
sociedade aberta assusta mentes retrógradas que se habituaram à
subserviência e à impunidade (...) Barbosa e Moro decretam o fim da
impunidade para os donos do poder”. Sem dúvida é uma fábula edificante.
Contudo, é bom que se esclareça que o articulista, ao se referir a
“poder” não inclui nesta categoria os donos dos meios de comunicação,
governantes ou políticos ligados ao PSDB e magnatas do mercado
financeiro, todos eles protegidos pela cumplicidade de um aparelho
policial e judiciário ocupado em boa parte por convictos direitistas
confortavelmente embalados pela hipocrisia de uma mídia venal e
intocável. O comendador da Globo, os delegados aecistas e outros tantos
exemplos comprovam estes fatos.
Um colunista amestrado e sua obsessão
Nesta mesmo edição de O Globo, outro colunista amestrado, este do
primeiro escalão, Ricardo Noblat, depois de apresentar como ilustração
em sua coluna a cabeça da presidenta Dilma cortada em uma bandeja, traz
agora uma charge com a foto do ex-presidente Lula ao lado de Cunha e
Collor, todos vestidos como os personagens "Irmãos Metralha", com sacos
de dinheiro na mão e fugindo de uma viatura policial. Um fato
“irrelevante”: Lula de nada é acusado e o inquérito aberto contra o
ex-presidente pelo Ministério Público Federal pode ou não redundar em
alguma acusação, desfecho que ainda não conhecemos (ou talvez os irmãos
Marinho já conheçam e já tenham até prometido ao promotor Valtan Timbó Mendes Furtado
uma medalha igualzinha a que o Moro ganhou). Segundo diversos juristas,
o inquérito é risível, aborda fatos ocorridos quando Lula já não
exercia qualquer cargo público e fica nítida a motivação meramente
política do procedimento. De qualquer maneira O Globo agora adota um
padrão ainda mais elevado no seu jornalismo, antes condenava quem não
tinha sido julgado e agora condena antes mesmo de qualquer acusação.
Sobre caluniadores e as ilusões
Publicar uma charge do ex-presidente Lula como um bandoleiro,
comparando-o a Cunha e a Collor, não tem qualquer justificativa e faz de
O Globo um reles panfleto caluniador movido pelo desejo de vingança
política contra um líder popular que derrotou os candidatos apoiados
pela família Marinho em quatro sucessivas eleições presidenciais. Se
existe um lado bom nisto tudo, e sempre existe, é que visões idílicas
sobre “transições suaves” e outros mitos que tanto ajudaram a desarmar
politicamente a esquerda, perdem cada vez mais espaço diante da
virulência de uma direita neofascista que ataca com fúria mesmo os
sociais-democratas mais moderados. Abandonar ilusões é uma coisa sempre
útil, quando se trata de enfrentar a realidade concreta, pois como dizia
Fernando Pessoa: “Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para
se poder ter sonhos”. - FNDC
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