1. TODOS os grupos de mídia fizeram a mesma cobertura negativa da
Copa, com os mesmos tons de cinza, o mesmo destaque às irrelevâncias,
prejudicando seu próprio departamento comercial pelo desânimo geral que
chegava aos anunciantes.
2. NENHUM grupo preparou uma reportagem sequer mostrando os
detalhes de uma organização exemplar, que juntou governos federal,
estaduais, municipais, Ministério Público, Tribunais de Conta, Polícia
Federal, Secretarias de Segurança, departamentos de trânsito,
construtoras, fundos de investimento. NENHUM!
3. Depois, TODOS fazem o mea culpa e passam a elogiar a Copa no mesmo momento.
4. Na CPMI de Carlinhos Cachoeira TODOS atuaram simultaneamente para abafar as investigações.
5. Na do “mensalão”, TODOS atuaram na mesma direção, no sentido
de amplificar as denúncias e esmagar qualquer medida em favor dos réus,
até as mais irrelevantes.
6. Na Operação Satiagraha, pelo contrário, TODOS saíram em defesa
do banqueiro Daniel Dantas, indo contra a tendência histórica da mídia
de privilegiar o denuncismo.
7. No episódio Petrobras, TODOS repetiram a mesma falácia de que a
presidente Maria da Graça disse que foi um mau negócio e o
ex-presidente José Sérgio Gabrielli disse que foi bom negócio. O que
ambos disseram é que, no momento da compra, era bom negócio; com as
mudanças no mercado, ficou mau negócio. TODOS cometeram o mesmo erro de
interpretação de texto e martelaram durante dias e dias, até virar
bordão.
8. No anúncio da Política Nacional de Participação Social, TODOS
deram a mesma interpretação conspiratória, de implantação do chavismo e
outras bobagens do gênero, apesar das avaliações dos próprios
especialistas consultados, de que não havia nada que sugerisse a
suspeita. Só depois dos especialistas desmoralizarem a tese, refluíram -
com alguns veículos ousando alguma autocrítica envergonhada.
É um cartel, no sentido clássico do termo.
Uma empresa jornalística que de fato acredite no seu mercado jamais incorrerá nos seguintes erros:
1. Trabalhar sem nenhuma estratégia de diferenciação da
concorrência, especialmente se não for o líder de mercado. A Folha
tornou-se o maior jornal brasileiro, na década de 80, apostando na
diferenciação inteligente.
2. Atuar deliberadamente para derrubar o entusiasmo dos
consumidores e anunciantes em relação ao seu maior evento publicitário
da década: a Copa do Mundo.
3. Expor de tal maneira a fragilidade do seu principal produto – a
notícia -, a ponto de municiar por meses e meses seus leitores com a
versão falsa de que tudo daria errado na Copa e, depois, ter que voltar
atrás. Em nenhum momento houve uma inteligência interna sugerindo que
poderia ser um tiro no pé. Ou seja, acreditaram piamente nas informações
falsas que veiculavam - a exemplo do que ocorreu com a
maxidesvalorização de 1999.
4. Nos casos clássicos de cartel, um grupo de empresas se junta
para repartir a receita e impedir a entrada de novos competidores. No
caso brasileiro, a receita publicitária cada vez mais é absorvida pelo
líder – a Globo – em detrimento dos demais integrantes do grupo. Para
qualquer setor organizado da economia, essa versão brasileira de cartel
será motivo de piada.
Tudo isso demonstra que há tempos os grupos de mídia deixaram de lado
o foco no mercado e no seu público. Não se trata apenas da perda de
espaço com a Internet. Abandonaram o produto principal – a
confiabilidade da notícia – para atuar politicamente, julgando estar na
política sua tábua de salvação.
A sincronização de todas as ações, em todos os momentos, mostra
claramente que existe uma ação articulada, centralmente planejada. Visão
conspiratória? Não. Provavelmente devido ao fato de não existirem mais
os grandes capitães de mídia, capazes de estratégias inovadoras
individuais. Assim, qualquer estrategista de meia pataca passa a dar as
cartas, por falta de interlocução à altura em cada veículo.
Por Luis Nassif no GGN
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