Recomendo a todos a leitura da reportagem
sobre o julgamento da AP 470, chamada pela imprensa de julgamento do
mensalão, na mais recente edição da revista Retrato do Brasil: "Como se inventou o desvio de dinheiro da Câmara dos Deputados". O autor do texto é o respeitado jornalista Raimundo Rodrigues Pereira.
O
deputado federal João Paulo Cunha e dirigentes da agência SMP&B
foram condenados por desvio de dinheiro público num contrato de
publicidade de R$ 10,7 milhões em 2003.
Cunha, o
principal acusado, teria cometido quatro crimes: um de corrupção
passiva, por ter recebido propina de R$ 50 mil; outro, de lavagem de
dinheiro, por ter tentado ocultar o recebimento dessa vantagem; e dois
de peculato: um por ter se beneficiado de dinheiro público, cerca de R$
250 mil da Câmara, através da contratação de um assessor pessoal, e
outro porque teria repassado cerca de R$ 1,1 milhão, também da Câmara,
não para a SMP&B, mas, na verdade, para o PT.
A agência teria feito menos de um centésimo do estipulado no contrato.
A
Retrato do Brasil chama atenção para um trecho do voto do relator,
Joaquim Barbosa, no dia 16/08/2012. Após horas tratando da acusação, ele
fala da defesa de Cunha, recorrendo rapidamente a um trecho da
conclusão de um acórdão do Tribunal de Contas da União, de 2008, segundo
a qual a SMP&B fez 11,32% do contrato, contrariando a tese do um
centésimo. Segundo a revista, Barbosa tentou desqualificar esse
relatório. “Com isso, claramente, o ministro Barbosa tentou passar para o
País a tese de que a absolvição de Cunha e da SMP&B pelo TCU fora
armada.”
Ainda de acordo com a reportagem, o relator
desprezou as principais investigações feitas – das quais a do TCU é
apenas uma – que provam que não houve desvio de dinheiro da Câmara no
contrato com a SMP&B.
Investigações
A
Câmara pediu em 2005 oficialmente que o TCU fizesse uma investigação
sobre o contrato. A própria Câmara também investigou a denúncia. O TCU,
em 2008, absolve Cunha e a SMP&B.
O relatório final da
investigação da Câmara é de 2010. A Comissão de Sindicância, após 480
dias de trabalho, concluiu em quase 2 mil páginas que o contrato foi
absolutamente legal, os pagamentos à agência estavam de acordo com os
termos contratados e todos os trabalhos previstos nele foram realizados.
Essa
conclusão não é a mesma de um assessor do PP designado pelo
ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti para investigar o caso, na
condição de chefe da Secretaria de Controle Interno (Secin). Alexis
Souza, após dois meses de trabalho, condena completamente a licitação
feita durante a gestão de Cunha. Ela não teria um objeto bem definido,
não incluiria um indispensável parcelamento de tarefas e teria a
participação de empresas com sinais de conluio entre si. A licitação
teria sido, ainda, julgada por critérios subjetivos.
Um
mês depois, Alexis analisa sete de 52 processos de compra de serviços
conduzidos pela SMP&B através de tomada de preços entre três
fornecedores para cada compra e diz ter encontrado neles inúmeros sinais
de irregularidade. É nesse documento – do qual Barbosa se vale – que é
dito que 99,9% dos serviços tinham sido terceirizados.
Apuração solitária
Mas,
acrescenta a Retrato do Brasil, tudo indica que Alexis nem chegou a ser
efetivamente secretario da Secin. Cunha pretende entrar com um embargo
dizendo que o relatório de Alexis é nulo de pleno direito porque ele não
foi nomeado efetivamente. Foi indicado para o cargo por Severino, mas a
nomeação não se consumou porque necessitava de aprovação dos outros
integrantes da mesa da Câmara e isso não ocorreu.
“E, a
despeito de Joaquim Barbosa dizer que o relatório de Alexis era de um
colegiado, a investigação da Câmara não conseguiu esclarecer quem
elaborou o relatório com ele, embora repetidamente lhe tenha pedido
esses nomes. O relatório só tem a assinatura de Alexis, que alega ter
sido isso uma decisão sua, para proteger de represálias os demais
participantes”, afirma a revista.
Além disso, o relatório de
Alexis foi refutado pela Comissão Especial que havia realizado a
licitação do contrato, rebatendo ponto por ponto.
A
Retrato do Brasil apresenta detalhes das investigações em diversas
instâncias da Câmara e do TCU e fartos números. Em resumo, podemos dizer
que a Comissão de Sindicância esmiúça e contradiz os relatórios de
Alexis. Inclusive mostrando notas fiscais correspondentes aos trabalhos
que Alexis havia dito inexistirem.
Ou seja, sobre a acusação de desvio de dinheiro público da Câmara, o caso estava liquidado.
E
sobre o TCU, a revista diz que o tribunal aceitou a explicação dada
pela Câmara sobre as pendências apontadas no contrato e, em 2008, o caso
foi levado ao plenário do tribunal. A decisão foi unânime, sustentando a
regularidade nos atos de gestão analisados.
Clique aqui para ler a íntegra da reportagem
Blog do Zé
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