28 de julho de 2011

Ministra dos Direitos Humanos acompanha escavações no Araguaia


A ministra-chefe da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário estará, nesta a quarta-feira (27), no Tocantins, acompanhando as escavações no Cemitério Municipal de Xambioá, realizadas na primeira expedição do Grupo de Trabalho Araguaia (GTA), coordenado pelos ministérios da Justiça, Defesa e Direitos Humanos.
A comitiva terá ainda as presenças do governador do Tocantins, Siqueira Campos; do presidente da Comissão Nacional de Mortos e Desaparecidos da SDH, Marco Antônio Barbosa; do representante do Ministério Público Federal, André Raupp, dos ministérios da Defesa e da Justiça, além de representantes de familiares dos desaparecidos políticos na Guerrilha do Araguaia, dos camponeses torturados e de membros do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

O emblemático Cemitério de Xambioá
 

Iniciadas na última segunda-feira (25), as escavações estão concentradas em duas áreas do Cemitério de Xambioá, Axixá e Cimento.
Ambos os polígonos, remontam à Primeira Caravana de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos na Guerrilha do Araguaia — realizada em 1980 e liderada pelo advogado comunista Paulo Fonteles, morto pelo latifúndio em 1987 — e têm sido o alvo de frenquentes pesquisas nos últimos 30 anos.
Acredita-se que a grande maioria de guerrilheiros mortos na primeira Operação de Cerco e Aniquilamento, das forças repressivas da ditadura militar ainda estejam sepultados no Cemitério de Xambioá. Na década de 1990, foram localizados no local os restos mortais de Maria Lúcia Petit e Bergson Gurgão, os únicos guerrilheiros identificados no conflito que produziu mais de uma centena de desaparecidos políticos.
Em outubro de 2010, uma outra ossada foi encontrada na área do Cimento com vestígios da presença de cordas. O tempo de sepultamento coincide com o período da Guerrilha do Araguaia (1972-1975).
Os restos mortais estão em Brasília sob análise do Departamento de Medicina-Legal da Polícia Federal e do IML do Distrito Federal. As indicações de 2010 foram realizadas por ex-coveiros e ex-mateiros, junto à Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia e a pesquisadores que repassaram as informações para o Grupo de Trabalho Tocantins do Ministério da Defesa, formato institucional de investigações daquele período.
Maria do Rosário visitará o Cemitério Xambioá na manhã desta quarta (27). Ela conversará com pesquisadores e membros da equipe de peritos, que reúne de geólogos a médicos-legistas especializados na busca de desaparecidos políticos no país inteiro.
Uma das principais expectativas da escavação em Xambioá é a localização dos restos mortais do médico-guerrilheiro João Carlos Haas Sobrinho, uma das figuras mais importantes e reconhecidas pela população araguaiana no enfrentamento da guerrilha com as tropas da ditadura militar. Foi Haas quem fundou os primeiros hospitais públicos, na região do Araguaia, no final da década de 1960.

Ato Político

Entre os destaques da presença da ministra Maria do Rosário está a realização de um Ato Público que reunirá diversas autoridades locais e nacionais, familiares de desaparecidos, representantes do PCdoB, além de integrantes do GTA e o governador do estado.
Os camponeses atingidos pela brutal repressão política perpetradas por militares, entregarão uma carta pedindo o empenho do mais alto posto da defesa dos direitos humanos do país à causa das necessárias reparações aos camponeses, concedidas pelo Ministério da Justiça, através da Comissão da Anistia e suspensas por um Juiz Federal do RJ à pedido dos advogados do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ).
A Associação dos Torturados na Guerrilha do Araguaia, através de Sezostrys Alves da Costa, entregará à comitiva ministerial um documento expondo a tragédia em que estão submetidos os camponeses da região.
A expectativa é que Maria do Rosário trate da importância da aprovação da Comissão da Verdade que atualmente tramita na Câmara dos Deputados. O objetivo é que o país aprofunde sua dimensão democrática com base no direito à memória e à verdade, causas necessárias para a superação de todo um período histórico da vida brasileira, marcada por torturas e desaparecimentos forçados.
Os representantes do PCdoB, Paulo Fonteles Filho e Leila Márcia Santos, entregarão à ministra uma lista relacionando militares e agentes da repressão que atuaram efetivamente em processos de execução, ocultação de cadáveres de militantes políticos em operações-limpeza, entre as décadas de 1970 até 2000. A ideia defendida por Aldo Arantes, da Direção Nacional do PCdoB, tem por base a necessidade da ampliação das informações para o êxito das buscas que já duram mais de 30 anos.
Os trabalhos do GTA em Xambioá se estenderão até 4 de agosto.

por José Carlos Sucupira no Página64

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