31 de agosto de 2016

Número dois da Procuradoria Geral da República, Ela Wiecko, repudia o golpe e pede demissão


Ela Wiecko renunciou ao cargo de vice-procuradora da República na noite desta terça-feira (30), após dizer, em entrevista à Veja, que o interino Michel Temer (PMDB) está sendo delatado na Lava Jato e, por isso, ela não vê com bons olhos que o peemedebista assuma a cadeira conquistada por Dilma Rousseff na eleição de 2014. A iniciativa da magistrada ocorre na véspera do julgamento final da presidente.

A então número dois da Procuradoria Geral da República recebeu uma ligação de Veja porque o veículo queria repercutir um vídeo em que Wiecko aparece em um protesto contra o impeachment, em Portugal, em meados de junho. Ela explicou que estava frequentando um curso de férias e decidiu se juntar a manifestantes que consideram o afastamento de Dilma um "golpe".

"Eu acho que, do ponto de vista político, é um golpe, é um golpe benfeito, dentro daquelas regras. Isso a gente vê todo dia, é parte da política", disse Wiecko quando questionada sobre sua opinião sobre o processo.

Veja quis saber, então, se Wiecko estava chamando o impeachment de golpe mesmo com a "participação" do Supremo Tribunal Federal e da Procuradoria-Geral da República no processo. "Aí tem que ser uma conversa muito mais comprida", respondeu, recusando-se a aprofundar este assunto ao telefone. "Tem que ser olho no olho", afirmou.


Segundo Veja, Wiecko cometeu uma "inconfidência" quando disse que Temer está sendo delatado na PGR e que este seria um dos motivos que a leva a rejeitar a ideia de que ele será presidente da República em caráter definitivo. Ela também comentou que dentro do Ministério Público Federal há outras figuras com o mesmo ponto de vista.

"Tem muita gente que pensa como eu dentro da instituição. Eu estou incomodada com essas coisas que estão acontecendo no Brasil. Acho que não foi da melhor forma possível. E pelas coisas que a gente sabe do Temer, não me agrada ter o Temer como presidente. Não me agrada mesmo. Ele não está sendo delatado? Eu sei que está. Eu não sei todas as coisas a respeito das delações, mas eu sei que tem delação contra ele. Então, não quero. Mas as coisas estão indo."

O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, deputado Padre João, emitiu uma nota em solidariedade à Wiecko.

O GGN reproduz abaixo:

Colaboradora de anos e anos desta Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, Ela Wiecko é uma referência em lutas essenciais à nossa democracia: contra o trabalho escravo, pelos direitos dos povos indígenas e quilombolas, pela igualdade racial e de gêneros, pela ética na política. Uma pessoa cuja sensibilidade social e compromisso com a Justiça são indissociáveis de sua atividade profissional e posicionamento cidadão.

Respeitamos sua decisão de renunciar ao cargo de Vice-Procuradora Geral da República, registrando no entanto a lacuna que se abre na instituição neste momento delicado da vida nacional, com tantos riscos à democracia e aos direitos humanos. Sabemos que poderemos continuar contando, como sempre contamos, com sua atuação funcional destemida e consequente na defesa dos direitos fundamentais do povo brasileiro.


Jornal GGN

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