O tempo ainda se esforçava para tornar-se quente naquele princípio de
verão em Colônia, mas quedava-se derrotado ao chegar da noite,
principalmente “naquela noite”, que já nascera sob chuva, fortes trovões
e sucessivos relâmpagos a iluminar, juntamente com as lamparinas
espalhadas por suas ruelas, a aprazível cidadezinha a oeste de
Montevidéu.
Foi assim que saíram a perambular pelas ruas de pedras do séc. XVIII,
guarda-chuva preventivamente à mão ― que contudo mostrou-se objeto
descartável, ali ― e o olhar contemplativo embriagado pelo atmosfera
bucólica.
A rua era sintomaticamente chamada “das Flores”, ou Calle de las
flores, e foi nela que em certo momento ingressaram, atraídos por
pequeno restaurante ali instalado, com suas mesinhas e cadeiras que a
invadiam.
Ao aproximarem-se foram efusiva e alegremente abordados por um homem
dos seus trinta e poucos, quarenta anos, magro, alto, cabeça
precocemente careca na parte superior, vestido com simplicidade, um pano
na mão a denotar estava limpando as mesas das folhas e pétalas de
flores que a natureza descartava.
“Olá, vocês souberam da novidade? São brasileiros?”, perguntou, num espanhol impregnado do sotaque e peculiaridades daquela região. “Hein? Sim, somos. Não. O que houve?”,
disseram-lhe, num portunhol muito do imprestável e meio que de supetão,
tentando assegurar-se de ter entendido as perguntas. “Caiu o bloqueio!”, exclamou, visivelmente tomado pela emoção. “Como assim? Que bloqueio?”, perguntaram tentando adivinhar. “O bloqueio econômico dos EUA à Cuba caiu!”,
disse-nos quase em voz alta, sorriso estampado, e com as mãos e braços
meio balançando, como se com isto pudesse fazê-los entender melhor. “Obama e Raúl Castro, com a intermediação do Papa Francisco, chegaram a acordo. É um momento histórico! Vencemos!”
Ela não se conteve e deu um grito, mãos com punhos cerrados pra cima e
lágrimas já deitando-se a escorrer. Ele, olhava pra um e pra outro meio
embasbacado, a emoção já sentida e manifesta. Abraçaram-se. Não
conseguiam conter a alegria. “Querem entrar pra comemorarmos? Ofereço um drinque!”, ofereceu emocionado. “Meu novo amigo, mas é claro que sim! Como não?”
Já mais tarde, no quarto de hotel e às vésperas do sono reconfortador
que já se aproximava, deram graças aos céus por estarem naquele 17 de
dezembro de 2014 na linda Colonia del Sacramento do belo, acolhedor e
politizado Uruguay. Melhor do que isto, solamente en Cuba. Feliz Natal…
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político
Nenhum comentário:
Postar um comentário