27 de fevereiro de 2012

Vítimas do golpe civil-militar recusam monumento na USP


MANIFESTO PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA USP
Nós, perseguidos pelo regime militar, parentes dos companheiros assassinados durante esses anos sombrios e defensores dos princípios por eles almejados assinamos este manifesto como forma de recusa ao monumento que está sendo construído em homenagem às chamadas “vítimas de 64” na Praça do Relógio, Cidade Universitária, São Paulo.
Um monumento na USP já deveria há muito estar erguido. É justo, necessário, e precisa ser feito. Porém, não aceitamos receber essa homenagem de uma reitoria que reatualiza o caráter autoritário e antidemocrático das estruturas de poder da USP, reiterando dispositivos e práticas forjadas durante a ditadura militar, tais como perseguições políticas, intimidações pessoais e recurso ao aparato militar como mediador de conflitos sociais. Ao fazer isso, essa reitoria despreza a memória dos que foram perseguidos e punidos pelo Estado brasileiro e pela Universidade de São Paulo por defenderem a democratização radical de ambos.
Esse desprezo pela memória dos que sofreram por defender a democracia, dentro e fora da Universidade, se manifesta claramente na placa que inaugurava a construção de tal monumento. A expressão “Vítimas da Revolução de 1964” contém duas graves deturpações: nomeia de “vitimas” os que não recearam enfrentar a violência armada, e, mais problemático ainda, de “revolução de 1964” o golpe militar ilegal e ilegítimo.
Essa deturpação da linguagem não é, portanto, fortuita. Resulta da ideologia autoritária predominante na alta cúpula da USP.
Durante a ditadura, essa ideologia autoritária levou a direção central da USP a perseguir, espionar, afastar e delatar muitos dos que então resistiam à barbárie disseminada na Universidade e na sociedade brasileira como um todo. Ainda macula a imagem desta Universidade a dura lembrança (i) dos inquéritos policiais-militares, instaurados com apoio ou conivência da reitoria; (ii) das comissões secretas de vigilância e perseguição; (iii) das delações oficiais de alunos, funcionários e professores para as forças de repressão federais e estaduais; (iv) da mobilização do aparato militar na invasão do CRUSP e da Faculdade de Filosofia em 1968; (v) da colaboração quase institucional da USP, na figura do seu então reitor, Luis Antonio Gama e Silva, na redação do Ato Institucional Número 5 – AI5; (vi) e da aprovação, por Decreto, do regimento disciplinar de 1972, que veda a docentes e discentes qualquer forma de participação política e confere à reitoria poder para perseguir os que o fazem.
Atualmente, essa mesma prática autoritária se manifesta não apenas na inadmissível preservação e utilização do regimento disciplinar de 1972 para apoiar perseguições políticas no interior da Universidade, mas também (i) na reiterada recusa da administração central da USP em reformar o seu estatuto antidemocrático, mais afeito ao arcabouço jurídico da ditadura militar do que à Constituição Federal de 1988; (ii) na forma pouco democrática das eleições dos dirigentes da USP, que assume sua forma mais absurda no processo de escolha do reitor por meio de um colégio eleitoral que representa menos de 1% da comunidade universitária; (iii) na ingerência do governo do Estado na eleição do reitor desta Universidade; (iv) e, mais grave ainda, na recorrente mobilização da força policial-militar para a resolução de conflitos políticos no interior desta universidade, tal como ocorreu, recentemente, na desocupação da reitoria da USP.
Nesse sentido, em memória dos que combateram as práticas da barbárie autoritária e suas manifestações, defendemos que a melhor forma de homenagear os muitos uspianos e demais brasileiros que tombaram nesta luta não é um monumento; mas, sim, a adoção dos princípios verdadeiramente democráticos em nossa Universidade, o que demanda o fim do convênio com a Polícia Militar, bem como o fim das perseguições políticas pela reitoria e pelo Governo de São Paulo a 98 estudantes e 5 dirigentes sindicais, através de processos administrativos e penais, e a imediata instauração de uma estatuinte livre, democrática e soberana, eleita e constituída exclusivamente para este fim.
Fonte: O Educacionista

2 comentários:

  1. centro de estudo e evolução .a universidade tem de ser livre para pensar. os que lutaram pela nação livre do capitalismo ianque não podem ser esquecidos e os que estão hoje lutando pela universidade não podem ser reprimidos como se fossem bandidos. em que ocasiões se põe a força policial ? quando se tem medo !!. esses jovens podem fazer o estado tremer .só em pensar que não poderão mais ter escravos os senhores se irritam ,perdem o rumo . um estado que serve a burguesia e é mantido pela massa pobre não pode existir. um estado parasita .são paulo é um laboratório do terror .veja as detenções lotadas que um dia puseram o estado de joelhos ,veja as favelas que vira e mexe "pega"fogo ,remoções e desocupações em nome da propriedade privada . alagamentos, chuva de granizo . são paulo tem de tudo menos um estado com políticas humanas -na verdade no brasil ninguém - .derrotar o capitalismo é o caminho . destruir as forças de dominação e educar o povo para que ele saiba que só sua força ´pode mudar a realidade . viva o socialismo !

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  2. Caro "anônimo", concordo com você e realmente acredito que para educar e conscientizar o povo temos que democratizar a comunicação e melhorar em muito o sistema educacional. No primeiro caso temos que oferecer TVs e Rádios comunitárias, universitárias, de sindicatos e movimentos sociais para que os de esquerda também tenham voz. Atualmente só os capitalistas dispõem de mídias para expor suas ideias. Quanto a educação temos que valorizar os profissionais, pagá-los adequadamente, melhorar em muito a parte física das escolas e reformular o conteúdo do que é ensinado. Eu acredito que política e cidadania são disciplinas que devem ser criadas e ensinadas já no ensino fundamental até a universidade. Não é possível um cidadão sair da universidade sem saber como funciona a câmara dos vereadores ou qual o papel de um senador. Além do mais todos temos que saber nossos direitos, como cobrar, fiscalizar e eleger nossos representantes. Isto para mim é o primeiro passo para chegar no socialismo. Grande abraço. e obrigado por comentar.

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