27 de janeiro de 2011

Tsavkko: A mídia e a consciência política de nosso povo

Brasileiro tem memória curta? A mídia e a "amnésia seletiva" - Parte 1

Brasileiro tem memória curta ou a mídia é que nos ajuda a ter amnésia seletiva? A mídia se beneficia da amnésia ou memória seletiva, manipulando as massas a votar naqueles que melhor se alinham a seus interesses.

Não surpreende que a Globo sempre tenha se colocado contra o PT, ao tempo em que a Record, que se beneficiou durante o governo, tenha feito um jornalismo mais isento - e por vezes tendencioso ao PT, mas de forma muito mais discreta que a concorrência pro outro lado - e nem de longe alinhado com a bandalheira geral.

Por detrás da (falsa) desculpa de que a mídia serve para fiscalizar e denunciar, as grandes redes de TV e grandes jornais e revistas patrulharam, fizeram falsas denúncias, praticaram denuncismo torpe. Mas este é outro assunto.


A mídia, ao escolher candidatos, ao tomar partidos, deixa claro que seu interesse é não o de defender os interesses do país, mas os seus próprios e o de grupos ligados a si. Basta ver apenas que boa parte da mídia é controlada pelos próprios políticos eleitos ou por sua família, ou ainda por famílias com íntimas ligações com o poder.

Como poderiam, então, não legislar em favor próprio?

Por vezes a mídia é forçada a sacrificar dos seus - vejam o Arruda em Brasília - mas fazem um esforço colossal para que seja algo isolado, que não respingue nos demais de seu grupo - como o Serra.

Mas mesmo o Arruda é passível de ser reabilitado, não seria a primeira vez. A mídia faz circos buscando pintar todos os políticos como canalhas desonestos, mas isto não é contraditório, é apenas a forma de esvaziar o debate político, de tornar a política algo tão abominável que não é levada à sério pelo povo e, claro, para igualar os políticos e não acabar com a chance de seus representantes serem vistos como únicos canalhas.

Ao rebaixar tudo ao mesmo nível de corrupção e canalhice, a mídia manipula duplamente.

Primeiro, consegue apagar ou ao menos esconder as piores máculas de seus candidatos preferenciais, pois todos são iguais, todos são ruins. Você tem que votar em alguém, afinal esta é uma "democracia", então se todos são ruins, vamos votar naqueles que a mídia ao menos dá maior atenção, nos que tem mais holofotes e aparentemente são menos piores.

Este discurso, aliás, voltou-se contra a própria mídia que tentou reverter o discurso na campanha contra Lula e contra o PT, fazendo Serra e cia posarem de defensores da moral e dos bons costumes contra os terríveis e ditatoriais petistas. O discurso não pegou, depois de anos reduzindo tudo ao mesmo e menor denominador.

E, segundo, e pior, a mídia conseguiu esvaziar de sentido o discurso político e a discussão. Se todos são tão ruins, qual o propósito em perder tempo discutindo? Deixem que a mídia faça a escolha, selecione os menos piores e aponte em quem votar.

Isto fez o PT demorar tanto a chegar ao poder.

A mídia sempre demonizou com especial atenção os petistas, buscando apontar aqueles menos piores do lado do Tucanato, ou seja, os ligados a seus interesses. Uma vez no poder a mídia começou a pesada campanha para denunciar casos de corrupção verdadeiros ou falsos do PT, mas esbarrou em um especialista em mídia maior do que todos os demais: Lula.

Mas mesmo Lula não conseguiu, depois de tantos anos de doutrinação, destruir a imagem criada pela mídia de que políticos em geral não prestam. Ele elegeu sua sucessora, mas o PT só teve sucesso coligado com forças do atraso como PMDB e PR, que antes eram apontados como "menos piores" pela mídia.

A questão é interessante. De um lado um político como Lula conseguiu escapar da demonização da mídia - não por falta de tentativas e nem para toda a população -, mas em geral os políticos continuam estigmatizados.

Não que a franca maioria não seja feita de ladrões e de gente da pior espécie (a classe política também não ajuda), mas em geral os piores políticos são donos de empresas de comunicação ou tem fortes ligações com estes grupos e, ou conseguem esconder seus piores momentos ou simplesmente contam com a ajuda da mídia para se re-erguerem quando necessário.

Mesmo que a Globo, por exemplo, faça uma matéria falando mal do político A, este mesmo pode usar a mesma Globo - que eu seu estado pode ser dele a retransmissora ou de um amigo - para voltar ao topo, para apagar o que aconteceu antes e apenas divulgar suas realizações (sic).

Obviamente que a mídia sozinha não pode tudo. Compra de votos, intimidação, ajuda de amigos políticos e etc também fazem sua parte, mas é inegável que a mídia tem papel crucial no esvaziamento político e intelectual da população.

Brasileiro tem memória curta? A mídia e a "amnésia seletiva" - Parte 2 

Programas como Big Brother e outros absurdos apenas fazem com que aflore o pior dos brasileiros, os sentimentos mais primitivos e, enquanto ligados nisto, pouco se importam com o mundo ao redor. Consomem e são consumidos pelas barbaridades televisivas e tornam coisas absurdas em lugar comum.

Fala-se que a TV passa aquilo que quer o povo, mas a verdade é que os programas são formatados para serem chamativos ao máximo, para ativarem o interesse do telespectador incauto. Estamos falando de profundos estudos de marketing e da pura exploração dos sentidos e instintos humanos. Aproveita-se de uma receptividade para então explorá-la ao máximo, enfiando Ratinhos da vida nas TV's e nas vidas do povo.

A ingenuidade criminosa (pseudo-ingenuidade, óbvio) daqueles que comandam as grandes redes de TV não surpreende. Dizem que, se um programa não é bom, que o telespectador mude de canal. Oras, como, se todos os canais seguem basicamente um mesmo padrão? E, além disso, parece que os gênios da TV esquecem de uma característica comum do ser humano: A necessidade de compartilhar, de ser parte de um grupo... Até mesmo de ter o que falar.

Aquele canal de qualidade, pouco assistido, não é assunto para as rodas, não te faz parte do grupo, logo, não há sentido em buscar maior qualidade de programação, e sim ir com os demais.

Os jornais impressos não são muito diferentes, e os portais da internet são ainda piores, oferecendo sem qualquer discernimento entretenimento de esgoto, fofocas e informações (sic) inúteis para serem consumidos em conjunto com a programação da TV. Discussões políticos ficam relegadas ao segundo plano - exceto quando há algum escândalo.

Nos momentos de crise, como enchentes, chuvas, desastres e etc a mídia se divide entre buscar mostrar das maneiras mais gráficas possíveis o sofrimento humano, a desgraça alheia - e fazem do sensacionalismo o prato do dia - e entre apontar os políticos como canalhas culpados que nunca fazem o suficiente, apontando soluções que não contribuem para qualquer tipo de debate sério sobre a função dos políticos e da política.

Parece um mundo alienígena em que os políticos estão errados ou não fazem nada e o povo deve apenas lamentar e se recriminar por não saber votar. Resta a solidariedade, o lamento, o "depois" e nada mais a ser feito, nenhuma alternativa a não ser contar com os mesmos políticos para resolver os problemas. Ou outros, apontados pela mídia e mais afinados com seus interesses.

Trata-se, enfim, de um círculo vicioso, onde cabe à mídia o papel de fazer esquecer, de lembrar o que interessa e de promover aqueles afinados com seus interesses. Urge um controle social da mídia, a fim de promover inclusão e debate político qualificado. Tratar o povo não como massa de manobra acéfala, mas como cidadãos de direito, donos de seu destino e donos, afinal, do país em que vivem.

Aptos a poder discernir, sem subterfúgios, a realidade, a não serem bombardeados por lixo, por programas que desrespeitam os direitos humanos, por notícias que abusam de nossa inteligência e por manipulações baratas.

do Blog do Tsavkko  

Um comentário:

  1. É por isso que o meu relacionamento com o PIG(globo e seus clones) é muito simples: Eles não me mostram o que eu preciso ver, e eu não vejo o que eles precisam me mostrar. Me informo na Internet, nas TVs públicas, nas TVs comunitárias e universitárias. A tragédia é que isto ainda é um privilégio de poucos. Com a universalização da banda larga e digitalização das TVs, o povo brasileiro será liberto desta mídia ditatorial, censurada e hegemônica que tomou todo o espectro analógico. E que insiste em não cumprir o seu papel social enquanto serviço público que é. Deles só os imóveis e os equipamentos, a licença para operar TV e Rádio, nos pertence, é outorgada pelo estado brasileiro e pode ser renovada ou não dependendo da qualidade do serviço prestado. Só que até o momento como as leis do setor desde a constituinte de 1988 não foram regulamentadas eles fazem o que querem com o indefeso consumidor brasileiro. E qualquer tentativa por parte de quem quer que seja de por ordem na casa, regulação que ocorre normalmente em outros países, é imediatamente taxado de "atentado às liberdades de expressão", "censura" e outras histerias do gênero. E o engraçado que vindo de quem apoiou um assalto ao país em 1964 que resultou numa ditadura sangrenta de vinte e uma anos. E que até hoje nos atormenta.

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