11 de janeiro de 2011

ABERRAÇÃO DA NATUREZA

Foto Roberto Jayme
Por Jussara Seixas

Está na Folha de São Paulo de hoje, 11/01, um texto do deputado J. Bolsonaro intitulado “Comissão da Inverdade”.

Ele critica a Comissão da Verdade, tece elogios à ditadura militar, faz cobranças e insinuações mirabolantes sobre a morte de Celso Daniel, sobre não-extradição de Cesare Battisti. Sendo o texto de quem é, não se poderia esperar nada melhor.

Sabemos todos quem atuou nas guerrilhas contra a ditadura militar, o que fizeram, quem sequestraram para trocar por companheiros que estavam presos, sendo torturados e mortos nos porões da ditadura.

Sabemos todos quem matou o capitão do Exército dos EUA, Charles Rodney Chandler. Chandler tinha atuado no Vietnã, e estava no Brasil a serviço da CIA, para ensinar técnicas de torturas usadas por ele contra os vietnamitas.


Estava disfarçado de estudante da Escola de Sociologia e Política da FAAP. Na era dos anos de chumbo muitos empresários financiavam as atrocidades, as torturas e os assassinatos. Entre eles destacava-se Henning Albert Boilesen, presidente da Ultragaz.

Boilesen, um dinamarquês naturalizado brasileiro, estava intimamente ligado à Operação Bandeirante (Oban), grupo paramilitar criado pelo II Exército para combater os guerrilheiros que lutavam contra a ditadura.

O empresário sentia prazer em assistir às sessões de tortura, como foi revelado pelos próprios torturadores. Boilesen gozava da intimidade dos agentes de segurança da OBAN, havendo até um instrumento de tortura conhecida como Pianola Boilesen, em homenagem ao empresário que trouxe do exterior uma máquina de eletrochoque acionada por teclado.

Foi morto em 15 de abril de 1971 por militantes da ALN e MRT, como retaliação contra as atrocidades cometidas pela Oban. Imaginavam que ficaríamos de braços cruzados, dizendo amém ao golpe, à ditadura, que não haveria uma reação forte contrária à falta de liberdade, à censura, às torturas e às mortes de companheiros e companheiras inocentes?

O que ainda não sabemos é a identidade de todos os torturadores, o que fazem eles hoje, onde eles estão, quem eles torturaram. Não sabemos onde estão enterrados os corpos dos militantes desaparecidos nem os nomes de quem os matou. Como foram mortos?

J. Bolsonaro já fazia parte do Exército na época da ditadura militar e em seu currículo consta que ele fez a Academia Militar de Agulhas Negras, integrou a Brigada de Infantaria Paraquedista, mas não consta se ele atuou como torturador, como assassino dos militantes de esquerda lá no Araguaia, ou se ele matou algum militante com requintes de crueldade. E então, Bolsonaro, você torturou e assassinou ou não?

Cadê os militares tão valentes e os torturadores cruéis que se vangloriavam das sessões de tortura? Estive com meu pai, capitão da PM, acompanhando uma amiga cujo marido estava preso nas dependências da Oban. Meu pai foi recebido por um tal Bismark e conseguiu visitar o nosso amigo. Nós duas aguardamos no pátio, onde ouvíamos os gritos de dor vindos do interior do prédio. Choramos. Um grupo de agentes torturadores saiu do prédio e, ao passarem por nós, um deles disse em voz alta: -”Precisava ter rasgado a b. daquela mina comunista?”. Então nos dirigiram olhares rindo, vangloriando-se e nos intimidando.

Isso ocorreu em 1972. Onde estão agora aqueles torturadores valentões? Quem eram eles? O que fazem hoje, por que vivem no anonimato? Nenhum companheiro, nenhum militante da esquerda que combateu a ditadura militar está hoje no anonimato. São pessoas bem conhecidas, inclusive há deputados, senadores, governadores, prefeitos, presidente, presidenta, intelectuais, professores, jornalistas, blogueiros, todos com nome e sobrenome. O Brasil tem direito à verdade, nós temos o direito de saber quem foram os torturadores, quem eles torturaram, quem eles mataram, que fim deram aos corpos dos desaparecidos, onde eles estão, como vivem.

Como eles, J. Bolsonaro é uma aberração da natureza, nem merece ser chamado de ser humano. Como eles, quer esconder a verdade trágica e criminosa que as Forças Armadas de nosso país patrocinaram no passado.
Blog da Dilma

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