1 de dezembro de 2024

“Num futuro próximo, os cânceres mais agressivos terão cura definitiva”, afirma pesquisador

 Matheus Henrique Dias estuda novas possibilidades para atacar as vulnerabilidades específicas das células tumorais, com a esperança de uma cura definitiva

Pesquisador brasileiro Matheus Henrique Dias estuda novas possibilidades para atacar as vulnerabilidades específicas das células tumorais (Foto: Divulgação )

Beatriz Bevilaqua, 247 O ar, a comida e até a água que consumimos estão cada vez mais contaminados, e isso tem um impacto direto na nossa saúde. Mas como o meio ambiente está influenciando o aumento dos diagnósticos de câncer ao redor do mundo? No episódio “Brasil Sustentável”, da TV 247, entrevistamos o pesquisador brasileiro Matheus Henrique Dias, que estuda novas possibilidades para atacar as vulnerabilidades específicas das células tumorais, com a esperança de uma cura definitiva. 

Matheus, biomédico com doutorado em bioquímica pela Universidade de São Paulo, é atualmente cientista sênior no Instituto do Câncer dos Países Baixos, onde se dedica ao desenvolvimento de tratamentos inovadores contra a doença.

"Infelizmente, o mundo inteiro tem notado um aumento alarmante na incidência de câncer, especialmente entre os mais jovens. Eu gostaria de ter uma resposta clara sobre as causas desse fenômeno, mas, por enquanto, é muito difícil identificar exatamente os fatores ambientais e as exposições que estão por trás desse aumento", afirmou.

Apesar das dificuldades, Matheus ressaltou que alguns avanços foram feitos. "Há alguns anos, foi demonstrado que a poluição, de uma forma geral, pode ser um fator de risco para o câncer de pulmão, mesmo sem causar novas mutações no DNA. Isso muda completamente a nossa compreensão do câncer, pois, tradicionalmente, acreditava-se que ele estava sempre associado a mutações genéticas. Este estudo mostrou que, em alguns casos, a poluição pode induzir o câncer sem alterar o material genético das células", explicou.

A descoberta desafiou antigas concepções sobre os mecanismos do câncer e foi um marco na comunidade científica. "Esse estudo foi um divisor de águas e impulsionou mais pesquisadores a querer investigar ainda mais a fundo como fatores ambientais, como a poluição, podem impactar a saúde humana de maneira que ainda não compreendemos totalmente", revelou.

O câncer surge quando uma célula ou um grupo de células no corpo começa a se dividir de forma descontrolada. Não se trata necessariamente de uma divisão mais rápida do que as células normais, mas sim da ausência de controle sobre esse processo. Essas células continuam a se multiplicar e, eventualmente, invadem outros órgãos. Para tratar a doença, a radioterapia ou terapias convencionais acabam sendo agressivas, pois seu objetivo é matar todas as células que se dividem rapidamente. Porém, como explica Matheus, "o problema é que várias células normais no corpo também precisam se dividir rapidamente. O corpo precisa desse processo para funções como o crescimento do cabelo, a regeneração da pele, entre outras." 

É por isso que os efeitos colaterais da terapia convencional ocorrem: ao matar células que se dividem rapidamente, as terapias também afetam as células normais do organismo. A proposta de Matheus e sua equipe no Instituto do Câncer dos Países Baixos, porém, é diferente. "Em vez de matar as células que se dividem rápido ou impedir que as células cancerígenas se multipliquem, estamos aumentando os sinais que induzem a divisão celular", detalha. Ao intensificar esses sinais, as células de câncer se tornam tão estressadas com o aumento da atividade que acabam entrando em colapso.

Matheus faz uma analogia para explicar melhor o conceito: "Imagine que as células de câncer são carros andando rápido demais. A terapia convencional tenta parar esses carros ou destruí-los. O que fazemos é diferente. Damos combustível de foguete para esses carros, fazendo com que eles superaqueçam. Depois, desligamos o sistema de refrigeração, e esses carros entram em colapso devido ao calor excessivo." 

Esse método, segundo ele, tende a ser mais eficaz e menos prejudicial do que as terapias convencionais, pois explora um dos maiores defeitos das células cancerígenas: o fato de elas já possuírem uma sinalização excessiva para dividir-se. "Em vez de destruir as células por completo, estamos usando esse defeito contra elas", conclui Matheus. Assista a entrevista na íntegra aqui:

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