2 de fevereiro de 2019

Rififi no Senado

 
O Senado não conseguiu eleger um presidente depois de cinco horas de confusão. A questão era clara: o governo Bolsonaro queria o senador Davi Alcolumbre e abusou de todas as manobras para atingir o objetivo.

A única forma de derrubar o favorito, Renan Calheiros, era mudar o modo de votação de secreto para aberto. O regimento preconiza o voto secreto. Alcolumbre manobrou até obter 50 votos contra 2 pelo voto aberto. Há um artigo no regimento, porém, que só permite alterações em caso de unanimidade.

O clima, que já estava quente, esquentou ainda mais quando a senadora Kátia Abreu sentou na mesa ao lado de Alcolumbre, proclamando-se presidente também ("se ele pode eu também posso") e arrancou de Alcolumbre a pasta com todos os papéis da presidência. Com isso, a sessão não tinha como continuar.

De dedo em riste, ela o chamava de usurpador e mandava sair dali para dar lugar ao senador mais idoso. Alcolumbre pedia a pasta de volta e ela: "vem aqui buscar".

Um senador sugeriu chamar a Polícia Federal para tirar a pasta da mão da senadora. Outro gritou que não iria admitir polícia dentro do plenário.

O rififi foi a consequência de um governo que não sabe em que terreno está pisando, que não tem articulação e escolhe os piores como seus aliados. Alcolumbre demonstrou, nas duas sessões de ontem, não reunir nenhuma condição para presidir o Senado. Fez tudo o que não devia nem podia. Demitiu até o secretário-geral da mesa que daria parecer contrário à mudança no regimento que o favorecia.

Por que, então um senador tão apagado e tão despreparado, virou o favorito do governo? Porque é pau mandado. Porque vai fazer tudo o que o governo mandar.

Renan é homem de acordos, mas tem limites. Não é vaquinha de presépio. E não compactua com ataques à democracia.

Kátia Abreu não largou a pasta até a suspensão da sessão, por volta das 10 da noite. Ficou mais ou menos decidido que Alcolumbre será substituído por José Maranhão.

Mas não ficou claro se Maranhão vai topar substituí-lo com a condição de manter o resultado favorável à votação aberta.

O próximo round está marcado para hoje às 11h no mesmo bat-local.
Alex Solnik
Alex Solnik no 247
Jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. Autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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