10 de setembro de 2018

Estadão não devia perguntar, Villas Boas não devia responder


Não dá para entender. Em plena vigência da democracia, conquistada a duras penas, depois de 20 anos de duro, nefasto e sanguinário regime militar, um jornal resolve entrevistar o comandante das Forças Armadas a respeito das eleições. Nos anos 70, quando Médici tentou interferir na escalação da seleção brasileira, o técnico, João Saldanha respondeu: "O senhor manda nos ministros e na seleção mando eu". Foi demitido. Mas mostrou que nem todos se submetem a pressões, nem mesmo numa ditadura.

O Estadão fez o contrário. Foi perguntar ao general Villas Boas, o mais poderoso, aquele que comanda todas as tropas, o que ele acha das eleições, que não é assunto militar. Se aceitaria a vitória de Lula. O que as Forças Armadas fariam se Lula fosse eleito.

O Estadão não tinha nada que perguntar nem Villlas Boas responder. Não cabe a ele opinar sobre as eleições, sobre Lula ou sobre outros candidatos. Militares não podem participar da política quando na ativa. Se Villas Boas quer participar da vida política tem que tirar seu uniforme.

Parece que o Estadão se esqueceu do erro cometido em 1964, quando foi o primeiro a apoiar o golpe militar e o primeiro a pular fora ao ser atingido pela censura e se empenha em chamar a ditadura de volta.

E Villas Boas se esqueceu de que os militares estão submetidos ao poder civil e seu comandante-em-chefe é o presidente da República.

Suas palavras, no entanto, não foram totalmente ofensivas à democracia. Perguntado qual seria a posição das Forças Armadas se Lula se tornasse elegível e ganhasse, respondeu:

"Quem chancela isso é o povo brasileiro. Nós somos instituição de Estado que serve ao povo. Não se trata de prestar continência para A ou B. Mas, sim, de cumprir as prerrogativas estabelecidas a quem é eleito presidente. Não há hipótese de o Exército provocar uma quebra de ordem institucional".

Preocupante foi a segunda parte da resposta:

"Não se trata de fulanizar. O pior cenário é termos alguém sub judice, afrontando tanto a Constituição quanto a Lei da Ficha Limpa, tirando a legitimidade, dificultando a estabilidade e a governabilidade do futuro governo e dividindo ainda mais a sociedade brasileira. A Lei da Ficha Limpa se aplica a todos".
Alex Solnik
Alex Solnik
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos" - 247

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"O Partido dos Trabalhadores convoca as forças democráticas do país a repudiar declarações de cunho autoritário e inconstitucional do comandante do Exército divulgadas pela imprensa neste domingo", diz nota divulgada pelo PT neste domingo; "Depois de dizer quem pode ou não pode ser candidato, de interpretar arbitrariamente a lei e a Constituição o que mais vão querer? Decidir se o eleito toma posse? Indicar o futuro presidente à revelia do povo?"; desde o golpe de 2016, o Brasil já teve a presidente Dilma Rousseff afastada sem crime, o ex-presidente Lula preso para ser impedido de disputar e ainda assim o PT, sob o comando de Gleisi Hoffmann, é favorito para vencer as eleições com Fernando Haddad  - 247

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