12 de junho de 2016

Defender Dilma é dever cívico, diz Bresser Pereira

Em entrevista à 'Rádio França Internacional', um dos fundadores do PSDB condenou o ódio na política e disse que o Brasil entrou em uma guerra


“Terei não só o prazer, como o dever cívico de defendê-la”. Esta foi a resposta do economista e cientista político Luiz Carlos Bresser Pereira, ao ser questionado pela reportagem da “Rádio França Internacional” (RFI) sobre o impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff. Ele enfatizou ainda que Michel Temer (PMDB) está promovendo um governo “absolutamente inaceitável”, com uma “uma tentativa de desmontar o nosso Estado de bem estar social“.

Ex-ministro de José Sarney e de Fernando Henrique Cardoso, Bresser Pereira é um dos fundadores do PSDB. Em dezembro de 2015, ele já havia se manifestado publicamente contra o pedido de afastamento. O economista se tornou crítico da legenda que ajudou a fundar. “O que eu vi, depois que saí do governo, é que a guinada do PSDB para a direita era muito forte”, comentou, à “RFI”.

Em maio deste ano, ele havia publicado em sua página no Facebook que a classe média tradicional, além do PMDB e do PSDB, paralisaram o Brasil.

Na entrevista, foi questionado sobre o pedido que recebeu para defender Dilma no Senado, e reforçou: “Terei todo o prazer, e não só o prazer, como o dever cívico de defendê-la”. Argumenta que, do ponto de vista jurídico, este impeachment é uma farsa.

“Nós todos sabemos – inclusive os relatores, os impetrantes em geral do processo – que o motivo real do impeachment não foram as famosas pedaladas“. Segundo o economista, está claro quais foram as “outras razões” para afastá-la do governo, e isto é inaceitável. Para ele, o impeachment “causa um forte arranhão na democracia brasileira”.

Motivos do golpe

“As outras razões foram essencialmente que a direita, a classe capitalista rentista e financista brasileira, resolveu que não queria mais ser governada pelo PT. Eles nunca quiseram”. Estes são os motivos que levaram ao processo contra Dilma, de acordo com Bresser Pereira. Após perderam as eleições de 2014, “os derrotados imediatamente começaram a pedir o impeachment”.

Em sua análise, ele encaixa os governos do PT no ciclo de democracia e justiça social, pois há “grande tentativa política dos governos Lula-Dilma (…) de fazer um pacto político e de classes desenvolvimentista. Um pacto que juntasse os trabalhadores e a burocracia pública aos empresários industriais, aos empresários produtivos”. Menciona o surgimento, no Brasil, de uma “direita violenta”.

Bresser Pereira condena aquilo que chamou de “ódio na política”, surgido a partir de 2013. “Foi a primeira vez que eu vi ódio na política brasileira – e ódio é incompatível com política“. É que, na política, explicou o ex-ministro, existem adversários, e não inimigos, porque inimigos se confrontam em guerras somente. “O Brasil entrou nessa guerra. Juntou-se essa direita violenta, com o Aécio Neves e o PSDB, que queriam ganhar o que não tinham ganho. E, no final, veio essa maravilha chamada PMDB, com os senhores Eduardo Cunha e Temer, “paladinos da moralidade pública”.

Outro assunto abordado na entrevista foram as medidas adotadas por Temer. De acordo com sua opinião, este governo começou mal e está caminhando mal. “Esse novo governo que está começando não pode ter ilegitimidade maior. É só olhar. As pessoas que lutaram pelo impeachment devem estar olhando para si mesmas e pensando: será que era isso mesmo que eu queria?”.

Sobre seu posicionamento crítico ao PSDB, Bresser Pereira explicou que a virada à direita foi elemento decisivo. “Acontecera não só na política econômica, de privatizações e liberalização, como na política externa, dependente dos Estados Unidos e de políticas ortodoxas. Eu demorei 10 anos para sair do PSDB. Pensei muito, meus amigos estavam todos lá, mas eu vi que, realmente, a virada para a direita tinha sido muito grande”, lamentou.

do Agência PT de Notícias

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