Neste domingo (14), teve início na 68ª Assembléia Geral da SIP
(Sociedade Interamericana de Imprensa) a apresentação dos relatórios por
país da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da organização. O
informe brasileiro foi apresentado pela superintendente da Folha da
S.Paulo e ex-presidente da Associação Nacional dos Jornais, Judith
Brito. O relatório alertou para o aumento de assassinatos de jornalistas
no exercício da profissão no país e destacou as ameaças sofridas pelo
repórter da Folha André Caramante, perseguido pelo ex-comandante da ROTA
e agora vereador eleito de São Paulo pelo PSDB, Coronel Telhada. No
início do mês, Caramante deixou o país com a família por razões de
segurança.
Ao término da apresentação, o presidente do Comitê Anfitrião da
Assembléia da SIP, Julio César Mesquita, diretor de O Estado de S.Paulo,
sugeriu um acréscimo ao informe:
“Acho que você deveria incluir no informe uma questão que aparece na
entrevista que a Folha publicou com o irmão do Genoíno, falando em nome
do PT, que, passadas as eleições, eles vão começar novamente com aquela
ameaça sobre como tratar a legislação da imprensa. Na entrevista ele diz
que o PT vai partir para o Congresso para estabelecer regras de
funcionamento para a imprensa independente. Acho que isso não pode ficar
de fora do informe brasileiro”, aconselhou Julio Mesquita.
Judith Brito concordou: “O país vive um momento histórico, com o
julgamento pelo STF do caso do mensalão. É um divisor de águas no país, a
sociedade brasileira está acompanhando atentamente este fato e a
punição da corrupção por altas autoridades do partido que estava no
governo é um fato extraordinário dentro do processo de democratização do
país. As instituições estão se fortalecendo. Este episódio, do irmão do
Genoíno, só mostra uma reação. E nossas associações devem ficar
atentas. Vivemos uma tentativa recente de democratização da comunicação,
que é sempre um eufemismo para censura. Mas temos sabido reagir à
altura. Os organismos de imprensa, as entidades de defesa da democracia,
o Judiciário tem se fortalecido. Mas temos que ficar atentos”.
“As declarações de todos eles culpam a pressão midiática. É o velho
discurso. Eles não desistem e vão vir pra cima da gente. O objetivo
deles é o que vimos na Argentina e que eles estão espalhando para o
continente todo”, sentenciou Julio Mesquita.
Na avaliação do Grupo RBS, afiliado da Rede Globo na região Sul, a
“ameaça de um novo marco regulatório sempre acontece, coincidentemente,
após uma cobertura mais intensa da imprensa contra o governo”. Para
Alexandre Jobim, da RBS, quando o governo é muito criticado em função de
julgamentos de corrupção de seus quadros, “vem a desculpa de que há
abuso nos meios de comunicação e vem a velada ameaça de retaliação”.
O diretor de conteúdo do grupo Estado e também do Comitê Editorial da
ANJ, Ricardo Gandour acrescentou uma tarefa aos meios de comunicação
neste cenário “perigoso”.
“Frequentemente a sociedade pode vir a ter a percepção equivocada de
que se trata apenas de uma luta setorial da imprensa, enquanto o que
está em jogo é o conceito de liberdade mais ampla. Junto com a liberdade
de expressão está a liberdade de empreender, de se associar, de
debater. Junto com um Estado investidor na informação estatal pode vir o
Estado monopolizador de setores, investidor excessivo em alguns
mercados, excessivamente presente na economia e na sociedade. Temos que
mostrar para a sociedade que não se trata apenas de luta da imprensa,
mas de um valor maior que é do interesse de todos”, afirmou.
“Postura ambígua”
Para o Diretor do Departamento de Comunicação do
Instituto Internacional de Ciências Sociais e professor da Universidade
de Navarra, na Espanha, Carlos Alberto Di Franco, o governo Lula adotou e
Dilma agora tem adotado uma postura ambígua em relação à liberdade de
imprensa. Segundo o jornalista, conhecido por suas relações com a Opus
Dei no país, apesar da Presidenta fazer um discurso de repeito à
democracia, “ela não condena, em nenhum momento, invocando a
autodeterminação dos povos, a ação de governos contrários à liberdade de
expressão, como a Venezuela, a Argentina e o Equador. Mantem um
silêncio absoluto”.
Para Di Franco, no plano interno, a ambiguidade também se manifesta.
“Enquanto mantém um discurso positivo em defesa da liberdade de
expressão, assistimos a tentativas preocupantes de limitação dessa
liberdade”, afirmou.
O professor citou então o anteprojeto de lei, elaborado na primeira
gestão do governo Lula, para criar a Agência Nacional de Audiovisual
(Ancinav), que queria “controlar a produção cinematográfica”. Depois, a
tentativa de criar o Conselho Federal de Jornalismo, para orientar e
fiscalizar a atividade jornalística no país.
“E o terceiro, mais impressionante, foi o Plano Nacional de Direitos
Humanos, o PNDH-3, que reduzia o papel do Congresso Nacional,
desqualificava o Poder Judiciário, agredia a propriedade privada e
sugeria o controle dos meios de comunicação”, relatou.
Na leitura do representante do jornal O Globo, Aluízio Maranhão, “há
um projeto de controle da mídia motivado por governos bolivarianos que,
no Brasil, passa por iniciativas como Conferências de Comunicação com
sindicalistas e apresentação de projetos de lei para aprovar novas leis
de meios”.
Para Di Franco, tudo isso não prosperou em razão “da solidez das
instituições do país”, como o Legislativo, “que retrata o rosto da
sociedade brasileira, tolerante e amante das liberdades individuais”, e o
Judiciário, que está dando “um magnífico exemplo na firme atuação do
STF”. E também em função do “grande prestígio social” da imprensa
brasileira.
“O antídoto para as iniciativas autoritárias está no fortalecimento
da imprensa. O poder está nos jornais. A formação da opinião pública, a
agenda pública é pautada pelos jornais. E neste continente os jornais
tem um poder imenso. A TV e as mídias sociais reverberam, mas o poder
está nos jornais”, afirmou. “Quando um jornal é ameaçado, é uma ameaça
para todos nós. E a melhor defesa dos direitos humanos passa por um
jornalismo de alta qualidade técnica e ética, equilibrado, sem
radicalismos, com poucos adjetivos e que aposta na contundência da
matéria apurada e no vigor dos fatos apurados”, descreveu Di Franco.
Para ele, este é o retrato do jornalismo brasileiro.
do Barão de Itararé
tendo uma mídia livre e não golpista que segue o povo como a que temos -globo é a expressão maior do golpismo contra a população fazendo -a de produto e explorando a sua miséria . não é de midia como tal que precisamos ,mas de jornais que informem ,eduquem e revoluciona o individuo .acordando para a sua luta como ator principal que é . imprensa forte tem de ser combativa ao lado do povo . ter orgaos alternativos é importante .ficar preso a tv ou as revistas que vendem produtos e não informam é um crime ao direito de informação e educação . por isso levantemos a bandeira da educação e informação do povo .
ResponderExcluirSem dúvida amigo, concordo com tudo o que você disse. Temos que ter democracia na comunicação. E como você diz, órgãos alternativos; e em condições iguais para oferecer ao povo informação de qualidade e o contraditório. Ninguém quer censurar nada o que queremos é liberdade de expressão para todos e não apenas para uma oligarquia.
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