Dizem, no Brasil, que as decisões do Supremo Tribunal Federal não se
discutem, apenas são cumpridas. Devem ser assumidas, portanto, como
verdades irrefutáveis. Discordo. Reservo-me o direito de discutir,
aberta e democraticamente com todos os cidadãos do meu país, a sentença
que me foi imposta e que serei obrigado a cumprir.
Por José Genoino Neto
Estou indignado. Uma injustiça monumental foi cometida!
A Corte errou. A Corte foi, sobretudo, injusta. Condenou um inocente.
Condenou-me sem provas. Com efeito, baseada na teoria do domínio
funcional do fato, que, nessas paragens de teorias mal-digeridas, se
transformou na tirania da hipótese pré-estabelecida, construiu-se uma
acusação escabrosa que pôde prescindir de evidências, testemunhas e
provas.
Sem provas para me condenar, basearam-se na circunstância de eu ter
sido presidente do PT. Isso é o suficiente? É o suficiente para fazerem
tabula rasa de todo uma vida dedicada, com grande sacrifício pessoal, à
causa da democracia e a um projeto político que vem libertando o Brasil
da desigualdade e da injustiça.
Pouco importa se não houve compra de votos. A tirania da hipótese
pré-estabelecida se encarrega de “provar” o que não houve. Pouco importa
se eu não cuidava das questões financeiras do partido. A tirania da
hipótese pré-estabelecida se encarrega de afirmar o contrário. Pouco
importa se, após mais de 40 anos de política, o meu patrimônio pessoal
continua o de um modesto cidadão de classe média. Esta tirania afirma,
contra todas as evidências, que não posso ser probo.
Nesse julgamento, transformaram ficção em realidade. Quanto maior a
posição do sujeito na estrutura do poder, maior sua culpa. Se o
indivíduo tinha uma posição de destaque, ele tinha de ter conhecimento
do suposto crime e condições de encobrir evidências e provas. Portanto,
quanto menos provas e evidências contra ele, maior é a determinação de
condená-lo. Trata-se de uma brutal inversão dos valores básicos da
Justiça e de uma criminalização da política.
Esse julgamento ocorre em meio a uma diuturna e sistemática campanha
de ódio contra o meu partido e contra um projeto político exitoso, que
incomoda setores reacionários incrustados em parcelas dos meios de
comunicação, do sistema de justiça e das forças políticas que nunca
aceitaram a nossa vitória. Nessas condições, como ter um julgamento
justo e isento? Como esperar um julgamento sereno, no momento em que
juízes são pautados por comentaristas políticos?
Além de fazer coincidir matematicamente o julgamento com as eleições.
Mas não se enganem. Na realidade, a minha condenação é a tentativa de
condenar todo um partido, todo um projeto político que vem mudando,
para melhor, o Brasil. Sobretudo para os que mais precisam.
Mas eles fracassarão. O julgamento da população sempre nos
favorecerá, pois ela sabe reconhecer quem trabalha por seus justos
interesses. Ela também sabe reconhecer a hipocrisia dos moralistas de
ocasião.
Retiro-me do governo com a consciência dos inocentes. Não me
envergonho de nada. Continuarei a lutar com todas as minhas forças por
um Brasil melhor, mais justo e soberano, como sempre fiz.
Essa é a história dos apaixonados pelo Brasil que decidiram, em plena
ditadura, fundar um partido que se propôs a mudar o país, vencendo o
medo. E conseguiram. E, para desgosto de alguns, conseguirão. Sempre.
São Paulo, 10 de outubro de 2012
José Genoino Neto
do Correio do Brasil
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