10 de janeiro de 2011

Alguns equívocos no livro de Rubim Aquino sobre a luta armada

Carlos Eugênio Clemente
Companheiros Cloves de Castro e Darci Miyaki
Por Carlos Eugênio Clemente

Só. Entre inimigos. Nas mãos dos inimigos. Inimigos que batem, torturam e matam. Que o odeiam. Não sem motivos, porque você ousou lutar contra a ditadura, o arbítrio, o atraso, colocando a vida em risco. Os inimigos não compreendem isso. Lutam por dinheiro.
Por isso, em igualdades de condições, fogem. À luz do dia, mesmo sem risco imediato de punição, se escondem. Ainda hoje não assumem.

Nunca vivi essa situação de luta. A prisão. A luta mais solitária e difícil. Lutei sempre para evitar cair nas mãos deles, pois sabia o que me era destinado. Tenho profundo respeito por todos os companheiros e companheiras que foram presos durante a luta contra o golpe de 1964. Sofreram na pele, na boca, nos olhos, nos ouvidos, no corpo todo, as marcas da intolerância e da covardia do Estado Brasileiro.
Alguns deram informações. Algumas permitidas e planejadas pela ALN, outras a conta-gosto de todos, pois causaram quedas de gente e de material. Às vezes mortes. Limite humano. General tem razão, vosso tanque não entrega, não sente dor, mas precisa do homem e da mulher para ter serventia. E das ideias.

Na clandestinidade nos importava saber tudo sobre o combate do companheiro preso. Para sabermos como agir, o que desmobilizar, quem avisar, quem não procurar. Só para isso.
Houve casos de uma minoria que trocou de lado. Como em todos os processos revolucionários, alguns trocaram suas convicções e dignidade por dinheiro, liberdade, ausência de dor.
Em todos os casos, como digo no meu primeiro livro, Viagem à Luta Armada a responsabilidade por tudo que não sejam gestos nobres e desprendimento, é do torturador. O que bateu diretamente, o que mandou bater, o que sabia que batiam e concordou ou não fez nada para pararem.
O Alto-Comando das Forças Armadas atendeu o chamado da direita brasileira - os empresários, os latifundiários, os banqueiros e a classe média que se aliou a eles – e atacou o Estado Brasileiro. Botaram os tanques e os soldados nas ruas, rasgaram a Constituição de 1946 e instalaram um regime baseado na tortura, na intimidação, na censura à imprensa, na deseducação do povo, na imposição do individualismo, dos preconceitos e no assassinato político. Estabeleceu-se o crime de opinião!
Lutamos, acertamos, falhamos, erramos, demos a vida pela liberdade e contribuímos para que fosse alcançada. E já fomos processados, condenados, torturados e mortos. Não aceito que meus companheiros presos sejam julgados novamente. Ainda mais quando são vítimas de erros de informação. Cloves de Castro e Darci Miyaki são companheiros da Ação Libertadora Nacional – ALN e foram vítimas recentemente de um erro imperdoável.
Cloves de Castro e Darci Miyaki não foram vítimas na clandestinidade, foram combatentes. Não foram vítimas na cadeia. Combateram com as armas que tinham. Resistiram, não trocaram de lado, estão no mesmo lado até hoje. Combatentes da liberdade e da democracia.
Para se colocar uma informação histórica num livro, temos que confirmar com várias fontes primárias e secundárias. O Professor Rubim Aquino não fez isso, e incorreu num grave erro. Também não quero julgá-lo, mas gostaria que ele revisse suas informações e viesse a público dar o resultado da nova busca.
Cloves de Castro e Darci Miyaki, um grande abraço do companheiro de sempre.
Notamos também que o último Página 13 de 2010, traz uma defesa de Cloves Castro e Darci Miyaki frente as injustificadas e equivocadas acusações feitas por Rubim Aquino e Luis Mir.

do Rede Democrática

Um comentário:

  1. Carlos Eugênio é muito bom te escutar. É a emoção de quem vivenciou a luta. Você deveria estar nas Universidades, TVs, é muito importante que os jovens te escutem. Para a formação do caráter deles e saber que já houve um tempo que os jovens... lutavam por solidariedade e justiça social. E esqueciam de suas vidas pessoais, suas carreiras, e davam suas vidas por uma causa. Temos que pressionar o novo congresso para que seja aprovado o Projeto de Lei que cria a Comissão da Verdade. E resgatar a dignidade destes companheiros.
    O CD e o livro que o governo lançou para que principalmente os jovens possam conhecer mais desta história jogada para debaixo do tapete, ajudam mas não é o suficiente. Grande abraço, comandante.

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