22 de setembro de 2010
ADEUS ÀS ARMAS
Revista Movimento
Movimento – Qual a sua estratégia ao disputar eleição à Câmara Federal?
Minha estratégia de campanha é atingir os jovens de 16 a vinte e poucos anos. É claro que mobilizei em primeiro lugar a minha geração, que participou das diversas lutas de resistência à ditadura e conhece a necessidade de aprofundar a democracia. Dentro da conjuntura política, o governo Dilma trará novidades e considero que temos que dar sustentação à nossa companheira.
Qual o slogan de sua campanha?
Aprofundar a democracia é hoje nossa tarefa revolucionária.
O que quer dizer esse slogan?
Aprofundar e radicalizar a democracia hoje tem a mesma importância que a luta armada de resistência contra a ditadura nos anos 60 e 70.
O parlamento não é uma instituição que a geração anos 60 condenava?
Nossa geração sempre respeitou a participação dos comunistas na Assembléia Constituinte de 1946. Marighella foi eleito deputado federal, Prestes senador, para citar apenas os mais conhecidos. O que condenávamos era participar do Congresso Nacional durante a ditadura, quando ele servia apenas para legitimar o regime autoritário. Pregamos o voto nulo em 1970 porque era uma forma de protesto. Depois participamos das eleições e ajudamos a redemocratizar o país.
Quem mudou: Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz ou o mundo?
Os dois. E seria triste se não tivesse acontecido. O mundo está sempre mudando mesmo quando não tomamos consciência dessas mudanças. O Brasil, por exemplo, saiu de uma ditadura civil-militar de direita, conquistou as liberdades democráticas, elegeu um torneiro mecânico do Partido dos Trabalhadores e está para eleger uma companheira resistente, Dilma Rousseff. Ainda falta muito, mas caminhamos bastante.
O que contém a sua plataforma política e eleitoral?
Minha plataforma consta dos seguintes pontos, que começam a ser divulgados numa Carta-Programa: Lutarei para aprofundar a Democracia como um valor de alcance universal e como único método legítimo de seleção e escolha dos governantes; Envidarei esforços para estender a Democracia Política para todas as outras esferas relativas aos poderes econômico, financeiro, social, educacional, cultural; Enfrentarei os desafios que as novas realidades do século XXI colocam com vistas à renovação teórica e prática do Socialismo Real do século XX; entre outros.
Qual a sua opção à presidência da República?
Dilma Rousseff. O governo Dilma será um passo adiante no sentido do aprofundamento e radicalização da democracia.
As eleições presidenciais acabarão no primeiro turno?
É difícil dizer. Há hoje uma tendência à vitória de Dilma no primeiro turno, mas ainda falta mais de um mês e muita coisa pode acontecer.
Qual a sua crítica a José Serra?
José Serra teve um passado de luta pela democracia e de resistência à ditadura. Hoje ele está capitaneando a direita brasileira. Em torno de sua candidatura aglutina-se o atraso, a reação ao processo popular que Lula e Dilma representam.
Qual a sua crítica a Marina Silva?
Marina foi uma tentativa de dividir os votos da esquerda e das camadas populares. Não deu certo, mas poderia ter causado um estrago grande. Minha pergunta é: como ela seprestou a isso?
As eleições mudam de perfil com o advento da Internet?
A democratização das informações, através da Internet, dá outra cara às eleições. Denúncias forjadas e manipulações são muito mais rapidamente desfeitas. Além disso, os candidatos, como eu, que não dispõem de máquinas e dinheiro em abundância, atingem um número de pessoas que normalmente não atingiriam. Resta saber, e essas eleições vão nos mostrar isso, se essa rede consegue transformar em ações diretas na realidade, o movimento de opinião que nela se forma.
O que o senhor achou da capa de Época sobre “O Passado de Dilma”?
Uma tentativa frustrada de semear medo. Como no caso daquela atriz que disse sobre Lula: “eu tenho medo”. Hoje, passados oito anos, quem é que vê razão naquele medo? Mesmo quem é contra o governo Lula, sabe que o Brasil andou. A mesma coisa será com Dilma, as pessoas vão saber que ela está preparada para ser a primeira mulher presidente do Brasil. Dilma, como todos os que participaram da resistência armada, deve se orgulhar de seu passado.
O socialismo ainda é uma possibilidade histórica?
Sim. Não o socialismo do século XX. Esse serviu de laboratório, queremos um socialismo em que a liberdade tem o mesmo peso da igualdade de oportunidades. A Ação Libertadora Nacional – ALN, organização da qual participei, já criticava o stalinismo e propunha para o Brasil uma Democracia Popular, não aceitando a tese de ditadura do proletariado. Hoje, propomos um socialismo do século XXI. Minhas propostas de campanha e mandato já apontam para isso. Temos também que levar em conta que o tempo histórico é muito mais longo do que o biológico, muito do que pregamos não será realizado às nossas vistas. Há que ser generoso, para lutar pelo socialismo.
Qual a sua visão sobre Cuba, hoje?
Falar de Cuba sem levar em conta o bloqueio criminoso imposto pelo imperialismo norte-americano seria tendencioso. Muitos analistas ficaram esperançosos com a eleição de Obama, mas nada aconteceu até agora. Cuba realizou proezas em vários setores da vida dos cidadãos. Saúde e educação são sempre lembradas, não sem razão. Não é pouco ter saúde e educação de qualidade e gratuita. A questão das liberdades democráticas deve ser enfrentada, mas não podemos esquecer a pressão em que os cubanos vivem devido à sua proximidade do Império que tenta a todo custo destruir a experiência de socialismo em Cuba. Defendo Cuba. Defendo o direito dos cubanos escolherem livremente seu destino.
O que o senhor acha da experiência da Venezuela e de Hugo Chávez?
A Venezuela experimenta um governo popular, com um grande apoio e tenta encontrar caminhos para resolver seus problemas estruturais: pobreza, fome, miséria, analfabetismo e desigualdade. Aqui também, a questão da soberania é essencial. Acabou-se o tempo em que intervenções não custavam nada. Deram um golpe de estado contra o governo, prenderam Chávez e ele voltou ao poder por mãos de seus seguidores das Forças Armadas. Essa é uma novidade, um líder popular que conta com o apoio do exército.
O que achastes de Cidadão Boilesen, que saiu agora em DVD?
Um filme excelente, que levanta uma questão importantíssima: o apoio do empresariado brasileiro ao golpe de direita e a sustentação que deram à montagem e manutenção dos órgãos de repressão e tortura como a Operação Bandeirantes e o DOI-CODI. Muita gente que hoje posa de democrata deu dinheiro para financiar a tortura política e eliminar os opositores do regime. O filme já deu resultados concretos, basta ver várias reportagens que começam a sair na televisão.
Tens projeto de lançar novo CD ou livro?
Estou, junto com a cineasta Isa Albuquerque, realizando um documentário e uma adaptação do livro Viagem à Luta Armada. São projetos demorados, pois o cinema é caro, mas em breve o documentário estará pronto, e depois será o longa-metragem de ficção. Tenho um livro na gaveta, pretendo lançá-lo ao mesmo tempo dos filmes.
Cesare Battisti: qual a sua posição sobre o caso?
Defendo o direito de asilo e a não interferência em nossos assuntos internos. O Brasil deu asilo ao General Stroessner sem julgá-lo politicamente. Battisti tem o mesmo direito.
http://www.movimentonoticias.com.br/?p=187
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O DIAP o coloca como um dos 182 eleitos para este pleito.
ResponderExcluirO congresso ganhará um parlamentar comprometido com a democratização das comunicações do país e não só com a democratização deste setor. Experiência, competência e caráter para dar e vender.