27 de janeiro de 2018

O caminho de volta para o presidente Lula, por J. Carlos Assis


A sorte de Lula neste momento está selada. A rigor sua condenação no recurso do tribunal federal de Porto Alegre era esperada na medida em que fez parte de um golpe judicial-midiático a serviço das classes dominantes do país com suporte internacional. Só os ingênuos poderiam supor que o golpe desfechado com o impeachment de Dilma pudesse ser abortado no meio do processo em razão de argumentos jurídicos de boa fé. Lula foi condenado porque, do contrário, a escalada golpista teria sido derrotada, o que, no mínimo, era inesperado.
O aumento da pena não é circunstancial, embora seja aparentemente uma provocação adicional aos milhões de brasileiros que apoiam o ex-presidente. É funcional. Se a sentença for confirmada em níveis superiores, Lula, que ficaria inelegível por oito anos até a idade de 79 anos, passaria a ser inelegível por 12. Com oito anos de condenação, ainda seria possível imaginar o ex-presidente disputando uma campanha eleitoral lá pelos fins dos anos 20. Com doze anos, não existirá mais essa possibilidade do ponto de vista prático. Lula estará velho demais.
Os juízes foram extremamente calculistas. Jogam com o fator emocional que empurra o PT para uma estratégia suicida do equivalente ao voto em branco. Se a estratégia do PT e de seus aliados progressistas for, como anunciado por alguns deles, a estratégia dos recursos sucessivos até o Supremo Tribunal Federal, não haverá tempo, diante de uma mais que provável decisão negativa deste, de preparar uma candidatura alternativa. Nessa situação o maior líder popular brasileiro será pouco mais que um pregador solitário pelos caminhos do Nordeste.
A única estratégia possível é óbvia: preparar imediatamente um candidato alternativo reunindo todas as oposições ao regime anti-povo e anti-nacional de Temer. Se apoiar esse candidato, Lula voltará a seus maiores momentos de eficácia, empurrando para a lixeira as forças conservadoras que o derrotaram, espera-se, temporariamente. E haverá grande possibilidade de esse candidato ganhar as eleições tendo em vista a pobreza das candidaturas de direita junto ao povo brasileiro.
Com isso, Lula, beneficiado pelo imperativo de um indulto certo pelo novo governante, poderá se preparar para voltar ao governo, se quiser, em 2022. Terá idade para isso, mais ou menos equivalente à idade de Reagan quando foi candidato pela primeira vez à Presidência dos Estados Unidos. Só um esquema como esse, garantindo uma presidência popular, poderá viabilizar o referendo revogatório das medidas infames de Temer, proposto pelo senador Roberto Requião, assim como abrir caminho para uma assembléia constituinte que limpe as instituições da República, como o Judiciário, de seus vícios. - *José Carlos Assis é economista.
Do Quem Tem Medo Da Democracia

Nenhum comentário:

Postar um comentário